Quando cometi esse engano semana passada, acabou que o ônibus foi me levando para um lugar onde não ia já há muitos anos. Percebi logo que era justamente o bairro onde morei por toda minha infância e início da adolescência. Imediatamente percebi que as casas, prédios, árvores e o próprio traçado das ruas, estavam impregnados de alguma substância maligna que me dava vontade de vomitar.
Claro, isso não foi de se estranhar. Bruscamente, sem que eu soubesse pra onde estava indo, me deparei com todas aquelas coisas antigas, misturadas a coisas novas e estranhas, e descobri que elas guardavam nos próprios tijolos o testemunho do meu surgimento no mundo.
Quando o ônibus passou na frente do prédio em que morei, eu estava pensando sobre quantas pessoas tinham se mudado também, ou morrido, ou vindo morar ali, "quem estaria dormindo no meu antigo quarto?!" Bem nesse momento entrou no ônibus uma antiga moradora do prédio, que era conhecida por ser louca. Aproveitei para descer.
Imaginei que seria doloroso esperar por outro ônibus, então decidi ir andando até o centro. E, de fato, conforme ia deixando para trás o bairro da infância e me aproximando das regiões simpáticas do centro, ia sentindo alívio. "Aquilo tudo continua lá", concluí. Pelo menos tá longe.