quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Otimismo

A chuva caiu tão abundante ao longo de toda a noite, que em alguns momentos tive a impressão de que alguém teria deixado por acidente o chuveiro ligado antes de dormir. O dia amanheceu ainda todo encharcado e cinza. O denso silêncio que que reinava por dentro e por fora de todas as coisas só era cortado pelo ranger terrível de uma furadeira ou qualquer outra ferramenta elétrica com a qual alguém realizava, talvez a umas três ou quatro casas longe daqui, logo pela manhã, algum trabalho furioso.
De repente me dei conta de que não quero mais escrever porra nenhuma. Quero continuar perdendo meu tempo apenas, da forma mais imbecil que pode haver. Um dia de folga por semana. É como uma concessão divina. Um dia perfeitamente maravilhoso em meio a uma rotina extenuante de trabalho sem sentido. Para não perder o costume, me levantei ainda cedo, café, pão com manteiga. Algumas coisas, afinal, ao não mudarem nunca, por mais que mude todo o resto, fazem com que o mundo se torne um lugar melhor. Em seguida verifico o e-mail e o facebook. Nada, cada vez menos. Ótimo.
Resolvi sair enquanto não havia chuva. É mais um daqueles momentos de espera. A sensação de que o tempo vai passando lento se torna mais clara. Parei num bar de esquina, pedi uma coxinha e uma Sub-zero. Era um canto pitoresco da cidade. Acaba o asfalto, começa o paralelepípedo. A mudança aparentemente brusca faz, na verdade, coerência com a igreja que fica no meio da praça.
O álcool produziu uma breve leveza na mente, propícia sobretudo para que fosse possível refletir acerca do desamparo e da inconsistência das coisas. O sacrifício da razão em busca da paz de espírito talvez seja, então, uma forma mais elevada de desapego, pensei. Ou de burrice.
O restante do dia passou todo de uma vez, lavado por litros de água que iam escorrendo fácil das nuvens. Retornando ao ponto de partida, permaneci sentado à mesa jogando fora diversas conversas com a lentidão de quem acredita que viverá para sempre.

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